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Nos dias de hoje muito se fala descomedidamente em terrorismo, algumas pessoas até o utilizam para aplicar em contextos de seus cotidianos como algo que odeiam muito ou quando não entendem nada. A palavra se tornou tão subjetiva que não se sabe mais sua verdadeira definição.
Terrorismo etimologicamente é modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas, ou de impor-lhes a vontade pelo uso sistemático do terror, esse terror pode ter suas variáveis, ou seja, pode ser político, psicológico e econômico.
Preocupa-me ainda a inclusão real de uma modalidade de coação tão presente em nosso cotidiano: o terrorismo social.
De todas essas ramificações aplicáveis ao tema, uma única certeza: os estragos psicológicos que o terrorismo acarreta sempre ultrapassam o ambiente das vítimas para incluir o resto da sociedade vitimada pelos atos terroristas. Considerando o período pós golpe de 64, que durou até 1.984, o Brasil foi vítima de terror político, emanado do regime brutal imposto ao País. Superado isso. Vamos considerar que, hoje, vivemos em uma democracia e o Brasil não é alvo de terroristas internacionais. Com a morte de Osama Bin Laden pelas tropas norte-americanas, o mundo ocidental está em alerta máxima, os herdeiros do fanatismo islâmico de Al Quaeda, já prometeram revanche e retaliações nos aliados do Tio Sam.
Acredita-se que nosso país não seja vítima de atentados terroristas islâmicos, justamente porque enfrentamos e sofremos outro tipo de terrorismo: o social.
Esse tipo é o mais temido pelas famílias brasileiras que sofrem de pavor, do receio, do medo, por problemas sociais que o país enfrenta e convive há séculos.
No Brasil, o negro ainda sofre preconceito, mesmo tendo Ministros negros empossados no STF, Dr. Joaquim Barbosa e da Cultura, Gilberto Gil; a mulher ainda é discriminada com baixos salários, mesmo tendo elegido recente a primeira mulher presidente na história política do país; o homoafetivo, mesmo com avanços nas jurisprudências dos Tribunais Superiores e no Congresso Nacional, ainda morre diariamente por pura discriminação de gente impostora e surtada por preconceitos enraizados dos tempos da caverna. Isso é terrorismo social.
O terrorismo no Brasil está inserido em outro contexto, na guerra civil e no tráfico de drogas no Rio de Janeiro e nas demais cidades Brasileiras, no terror provocado aos pais e familiares das vítimas da matança de Realengo, no Rio, no alto índice de mortalidade infantil, nas mães que abandonam seus filhos em lixões e quintais por todo Brasil, isso sim é terrorismo, o social, o pior de todos eles.
O terrorismo social no Brasil é muito mais temido do que o terrorismo islâmico.
A ONG Rio da Paz, em comunicado muito recente assinado por seu presidente Antônio Carlos da Costa concluiu que nos últimos 16 meses cerca de 17.000 pessoas morreram de forma violenta no Rio. Isso dá uma média de 1.062 por mês. 35 por dia. Isso é Terrorismo Social.
Mais de 16 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza no Brasil, o que representa 8,5% da população total do país. Na região Norte, são 2,6 milhões de pessoas com renda igual ou inferior a R$ 70 (setenta reais). Deste total, 1,4 milhão vive no Pará. A grande maioria está concentrada na população rural, onde cerca de 840 mil pessoas vivem na extrema pobreza. Na área urbana, são 582 mil que vivem quase na miséria no Pará, fonte fornecida pelo IBGE e pelo IPEA. Isso é terrorismo social. O Brasil ao sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada prefere dizer ao mundo que por aqui está "tudo bem, " quando na verdade não está.
Essa empolgação e ilusão do povo brasileiro são preocupantes.
Vale mais investir o dinheiro público em questões sociais e na segurança pública, para melhorar os causadores do terrorismo social ou na construção de modernos estádios de futebol e vilas olímpicas?
Apesar de todo esse cenário, sempre há uma esperança no fim do túnel e o Brasil está incluído na lista de países com alto índice de desenvolvimento humano– o IDH. Ainda que haja muito trabalho para fazer como melhorar a distribuição de renda no País, o acesso à educação e melhorias na saúde, esse valor do IDH brasileiro é positivo porque proporciona mensurar, os avanços do País e podemos também comparar com o crescimento de outros países. Desta maneira podemos caminhar para o desenvolvimento humano.
O Brasil caminha, bem ou mal, para uma melhoria.
É preciso continuar investindo cada vez mais na área social, esse é o caminho a ser trilhado, é um desafio, como sempre o foi, melhorar a educação e a saúde da população, para que todos os brasileiros possam se sentir parte desse país que está crescendo e não excluídos ou abandonados dele, para que a sensação de terrorismo social, tão preocupante e atual se afaste cada vez mais da realidade cotidiana de nossa nação.
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Hugo Nogueira - (advogado e membro da comissão de igualdade racial e etnia da OAB-PA)