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Na oportunidade, Fernando Augusto Henriques Fernandes falará acerca do ingresso da ação do Conselho Federal da OAB no STF para a divulgação dos arquivos públicos existentes no Superior Tribunal Militar (STM), que tratam do julgamento dos presos políticos durante a ditadura militar. Em seguida, será exibido um filme de curta-metragem em homenagem a Sobral Pinto, além de lançamento de livros e exibição de vídeo em homenagem a Raymundo Faoro (Diálogo pela Democracia).
Em entrevista concedida à Assessoria de Comunicação da OAB/PA, o presidente da CAA-PA, que foi dirigente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual de Pernambuco, comentou a respeito da homenagem que receberá do CFOAB, lembrou-se de momentos de luta contra a ditadura militar em terras pernambucanas, especialmente de colegas brutalmente assassinados, e deixou uma mensagem à advocacia paraense.
Ascom: No próximo dia 31 de março, o presidente vai receber uma homenagem do Conselho Federal por ter se destacado na luta contra a ditadura militar. O que isso representa?
Oswaldo: “Fundamentalmente, para mim, muito pouco. Isso representa muito para a memória dos companheiros que foram mortos, torturados e sofreram nos porões da ditadura militar. Isso eu tomo como homenagem para eles, não para mim”.
Ascom: Há algum colega que o presidente gostaria de mencionar ou até mesmo dedicar essa homenagem?
Oswaldo: “Aos dois colegas que foram fuzilados no dia 1° de Abril de 1964, quando o golpe foi deflagrado: Jonas José de Albuquerque Barros, 16 anos, que era secundarista do Colégio Estadual de Pernambuco, que morreu nos meus braços com um tiro no rosto, e Ivan da Rocha Aguiar, 24 anos, estudante de engenharia. Indiscutivelmente, foram os primeiros mártires da ditadura militar, que foram anistiados em um seminário que aconteceu recentemente em Pernambuco”.
Ascom: Qual é a principal lembrança que o presidente carrega desses dois colegas?
Oswaldo: “A brutalidade. Nós estávamos desarmados, somente com a bandeira nacional nas mãos. Eles foram brutalmente assassinados enquanto fazíamos a passeata desarmada, que se dirigia ao Palácio Campo das Princesas, em Pernambuco. Na prática militar, se você elimina o líder, os demais ficam perdidos. E foi isso que eles fizeram matando as lideranças do movimento”.
Ascom: Além do assassinato brutal dos seus dois colegas, o que mais lhe chamou a atenção nessa época?
Oswaldo: “Foi o terror que a Marinha, o Exército e a Aeronáutica implantaram lá no Recife. A perseguição dos que lutavam por democracia, a perseguição das pessoas comprometidas com as lutas populares. Ocorreram prisões em massa e eu já não voltei mais pra casa. Quando o Jonas foi atingido e eu cai no chão com ele, eu já não quis mais voltar para casa e nem para o meu emprego. Na época, eu era funcionário da IAPC. Me afastei da faculdade e perdi meu emprego”.
Ascom: Foi isso que motivou sua vinda aqui para o Pará? E o presidente concluiu o curso de Direito quando?
Oswaldo Coelho: “Sim. Conclui 14 anos depois, porque não tinha o curso no período da noite aqui, e, por conta disso, passei 14 anos sem estudar. E eu, nesse período, me dediquei à luta sindical. Foi quando eu fui eleito o presidente do Sindicato do Fumo, de 1966 a 1968. E também eu apresentava um programa de rádio aos domingos, que se chamava ‘A Voz do Trabalhador’, pela rádio Guajará, que era um programa patrocinado pela Federação dos Trabalhadores da Indústria, da qual fui eleito presidente também”.
Ascom: Atualmente, há um movimento chamado “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. Como o presidente vê esse movimento que está reivindicando a volta dos militares ao poder, justamente na época em que o presidente receberá essa homenagem do Conselho Federal da OAB.
Oswaldo Coelho: “Eu vejo isso como um anacronismo. Eu acho até contradição É um pessoal, que é uma minoria inexpressiva, usando a democracia para destruir a democracia. E eu acredito que é um movimento que vai cair até no ridículo”.
Ascom: Para finalizar, qual a mensagem que o presidente gostaria de deixar para os jovens advogados, que estão vivendo esse tempo de liberdade e democracia?
Fotos Paula Lourinho