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Sensibilizada com as vítimas da tragédia que as fortes chuvas provocaram em cidades do Rio de Janeiro, a Seccional do Pará adere a Campanha em prol dos desabrigados das enchentes.
A situação dos locais atingidos foi pessoalmente constatada pelo presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, que relatou fortemente emocionado em uma carta destinada a todos os presidentes das seccionais da OAB.
Além da destruição que restou das enchentes, os locais atingidos provocaram centenas de mortes e desabrigaram inúmeras pessoas, dentre elas, advogados que perderam bens materiais e parentes, presenciando uma realidade lamentável e cruel como conseqüência da mãe natureza.
Diante da situação vivida pelas vítimas da tragédia, a Seccional do Rio de Janeiro, junto a outras seções, estão mobilizadas em prol das vítimas que, hoje precisam da ajuda de todo o Brasil em suas necessidades básicas, como alimentação e moradia.
Em parceria com a OAB/RJ, o Pará abraça a causa e mobiliza a sociedade jurídica paraense para arrecadar fundos como forma de ajudar os desabrigados, vítimas da tragédia.
As doações poderão ser feitas até o dia 30 de janeiro. Os interessados em ajudar, podem depositar qualquer quantia através da seguinte conta:
OAB-RJ - SOS REGIAO SERRANA
Banco do Brasil
Agência: 2234-9
Conta Corrente: 1000-6
Leia na íntegra a carta do presidente da OAB-RJ, Wadih Damous
RELATO ACERCA DA TRAGÉDIA CLIMÁTICA NO RIO DE JANEIRO
Prezados amigos.
Estive, ao longo do dia de ontem (14/1) , em Friburgo e, ao longo do dia de hoje (15/1), em Teresópolis. Passo a narrar, em breves linhas, o que presenciei naquelas duas cidades devastadas.
- FRIBURGO
Lá estive acompanhado do Presidente da CAARJ, Felipe Santa Cruz; do Presidente da Subseção da Barra da Tijuca, Luciano Bandeira e do Presidente da Comissão da Justiça do Trabalho, Ricardo Menezes, além da equipe de jornalistas da OAB/RJ.
O Centro da cidade encontra-se devastado. As ruas foram tomadas pela lama espessa - após a inundação causada pelo transbordamento do rio. Paralelepipedos fora do lugar; buracos gigantescos abertos pela força da enxurrada; carros destruídos e empilhados de rodas para o ar pelas calçadas e ruas. Casas e prédios de apartamentos tomados pela água e pela lama; comércio inteiramente fechado. A sede da subseção da OAB foi alagada, sem danos aos equipamentos e móveis, felizmente. Esse é o cenário imediato de quem entra na cidade.
Chapinhando na lama onde havia ruas, presenciamos o desespero e a tristeza das pessoas que perderam seus pais, filhos, maridos, esposas, avós, netos, sobrinhos e amigos. Dirigimo-nos à Câmara Municipal, cujo salão principal foi ocupado pelos caixões de algumas vítimas. Lá, assistimos ao desespero impotente do colega Samuel Guerra e Silva, que perdeu a casa, a mãe, as duas filhas, a irmã, o cunhado e duas sobrinhas. Há relatos sobre famílias inteiras extintas e de crianças que perderam todos os seus ascendentes.
Presenciamos diversos escombros de casas e prédios. Sob eles, ainda se encontram muitos corpos. Uma cena dolorosa de se ver foi a de uma mãe que morreu abraçada com o seu filho. Isso me lembrou Pompéia, após a erupção do vulcão.
Fomos ao Instituto de Educação, cujas instalações se transfomaram em verdadeiro Instituto Médico Legal. Centenas de caixões espalhados pelo chão; o cheiro terrivel da morte que nem as mascaras perfumadas conseguiam evitar. Corpos chegando de minuto a minuto, como se fosse uma produção em massa de cadáveres. os corpos chegam em adiantado estado de decomposição. Por isso, assinamos juntamente com o Judiciário e o Ministério Público, um documento que autoriza o sepultamento imediato, após fotografar e recolher material de DNA.
Para piorar o quadro, alguns criminosos espalharam o boato de que a represa da cidade se rompera. Houve momentos de pânico, que poderiam se transformar em outra tragédia. Felizmente, conseguiu-se acalmar a população.
Ao que parece, o número de advogados mortos será elevado. Colegas desabrigados são muitos. A cidade precisa de água potável, comida, remédios, etc, Duas funcionárias da OAB perderam tudo o que tinham. Há uma outra, desaparecida.
Hoje (sábado, 15/1) , voltou a chover forte, o rio transbordou e uma barreira desmoronada impede o acesso de socorro à cidade. Os caixas eletrônicos dos bancos estão fechados. As pessoas não podem sacar dinheiro para a compra de víveres.
O número de mortos pode chegar à casa dos 1000
MEDIDAS POR NÓS ADOTADAS:
1 - Autorizei a doação de 12 toneladas de água potável;
2 - A OAB/RJ coordena um consórcio de solidariedade formado por empresas e outras entidades;
3 - Determinei a suspensão da cobrança de anuidade de todos os advogados da região serrana;
4 - A Central Telefônica da entidade está fazendo contato telefônico para saber das necessidades e do paradeiro dos advogados das cidades devastadas. Entre ontem e hoje já falamos com mais de 500 colegas;
5 - Enviei um grupo de 30 funcionários da Seccional para limpar a sede da subseção, trabalhar como voluntários e executar as tarefas que se façam necessárias
6 - A nossa procuradoria, so b o comando do Procurador Geral, Ronaldo Cramer, está organizando uma brigada de advogados para auxiliar na recomposição dos documentos perdidos: identidade, escrituras, certidões, etc.
7 - Estamos intermediando com o Rotary Club a importação, por doação, da Inglaterra, de quantas tendas se façam necessárias - talvez, umas cinco mil - para abrigar os desabrigados e os que se encontram em áreas de risco. São as mesmas utilizadas no Haiti
- TERESÓPOLIS
Lá, o quadro guarda uma diferença com Friburgo: o Centro da cidade não foi atingido, o comércio funciona normalmente. Já as áreas periféricas foram devastadas. Algumas localidades foram riscadas do mapa, como é o caso do Calema, onde moravam 6000 pessoas.
O ritual é o mesmo: corpos que chegam a todo momento. Há locais de dificil acesso para as equipes de resgate e até para os helicópteros. Provavelmente, há centenas e centenas de corpos soterrados e espalhados pelo meio do que se chamava rua. Aparentemente, os advogados não foram atingidos como em Friburgo. O número de mortos pode chegar também aos 1000. Há centenas de desabrigados instalados precariamente em uma quadra esportiva. As medidas adotadas, guardada essa ou aquela peculiaridade, são idênticas.
CONCLUSÕES
É um cenário de guerra. A chuva forte não para de cair e a previsão é de que continue chovendo. Essa catástrofe testa o grau de humanidade de todos nós.
Devo destacar, antes de mais nada, o comportamento dos Presidentes das Subseções de Friburgo e Teresópolis. O primeiro, advogado Carlos André Pedrazzi, apesar da sua imensa dor, pela perda de muitos amigos, mostra uma dedicação invulgar, coragem e espírito público. A sua casa corre iminente risco de desabamento. Teve que se mudar para a casa dos pais, com a mulher e duas filhas. Nada disso o dobrou. Carlos André honra as tradições da advocacia e da OAB. Dele, nunca me esquecerei. Já o Presidente Jefferson de Farias Soares, de Teresópolis, não vive o drama de seu colega friburguense, mas assumiu um papel de liderança na condução das medidas necessárias a organizar o caos. Ele também é um motivo de orgulho para a sua cidade.
Tenho de sublinhar o trabalho extraordinário dos médicos, enfermeiros, policiais, militares, bombeiros, juizes, promotores, defensores públicos, jornalistas, as três esferas de governo, motoqueiros, trilheiros, nossos colegas advogados, dos funcionários da OAB e, sobretudo, das pessoas comuns. Os exemplos de solidariedade e de compaixão vindos de todo o país mostram que a maioria esmagadora de nosso povo é boa, generosa e solidária.
Ficou claro para mim, também, o prestígio e o respeito de que a OAB goza na sociedade. Esse é um patrimônio que todos nós temos o dever de preservar.
Era o que tinha a relatar. No momento, sinto-me com uma faca cravada no coração.
Um forte abraço em todos vocês.
Wadih Damous
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Rio de Janeiro