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Delegados são exonerados Edição de 05/08/2010 Estado tira o cargo de policiais envolvidos no caso da adolescente presa com homens em Abaetetuba |
Quatro delegados envolvidos no caso da adolescente de 15 anos que Aficou presa com 20 homens na Delegacia de Abaetetuba foram exonerados ontem pelo governo do Estado. O caso aconteceu em 2007 e teve repercussão nacional. Celso Iran Cordovil Viana, Rodolfo Fernando Valle Gonçalves, Antônio Fernando Botelho da Cunha e Flávia Verônica Monteiro Pereira são os delegados demitidos. A Associação dos Delegados do Pará (Adepol) informou que irá recorrer da decisão. As informações são do Portal ORM.
Segundo nota enviada à imprensa, o decreto foi assinado pela governadora Ana Júlia Carepa, após a conclusão do processo disciplinar administrativo instaurado contra os policiais.
De acordo com o processo, a menina foi submetida a constrangimentos, como fome, abuso sexual, ameaças, agressões físicas e maus-tratos. A medida será publicada no Diário Oficial do Estado de hoje. A adolescente está sob proteção do governo federal.
Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Pará, Jarbas Vasconcelos, apesar da "tardia decisão" do governo, "alguma justiça administrativa está sendo feita". Segundo ele, no entanto, o que causa estranheza é o fato de os investigadores Sérgio Tavares da Silva, Adilson Pires de Lima e Francisco Carlos Fagundes Santos - acusados de torturas contra a adolescente na cadeia - serem excluídos do processo administrativo. "Vamos analisar a portaria no Diário Oficial nesta quinta-feira e pedir explicações adicionais ao Estado", adianta Vasconcelos.
Adepol - O presidente da Adepol, delegado Silvio Maués, afirma que os advogados dos quatro policiais exonerados se reunirão hoje com a associação, após a publicação da exoneração no Diário Oficial. "A associação vai pedir uma fundamentação criteriosa da medida do governo do Estado, pois, vemos algumas falhas processuais nessa decisão, pois o procedimento não foi individualizado mas, sim, analisado como um único processo", comenta Maués, explicando que o correto seria que cada um dos policiais respondesse a um procedimento individual. "Deveria ser apurada a conduta de cada um a seu tempo. Porque, da maneira como foi feito, ficou parecendo que todos contribuíram em um mesmo momento para os resultados finais daquela situação", enfatizou.
Segundo o delegado, a decisão não foi uma surpresa para a Adepol. "Em função de tudo o que houve, e também pelo fato de como foi conduzido o processo, era previsível. Mas nós iremos trabalhar no sentido de reintegrar os colegas à Polícia Civil", afirmou. Silvio Maués disse ainda que esta é uma oportunidade para pedir soluções para um outro problema, que é a custódia de presos em delegacias de polícia. "Essa não é uma atribuição da Polícia Civil (PC), e continua sendo recorrente. Se não tívessemos que abraçar esta responsabilidade, fatos desta natureza seriam evitados", argumentou.
Juíza foi a primeira a ser punida por manter menina na cadeia
No dia 20 de abril deste ano, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou a aposentadoria compulsória da juíza Clarice Maria de Andrade, que permitiu a manutenção da menor de idade numa cela com cerca de 20 homens em Abaetetuba.
À época, o presidente do CNJ, ministro Gilmar Mendes, afirmou que a magistrada foi punida por permitir que a menina de 15 anos ficasse em um espaço divido com homens, mesmo conhecendo a situação do cárcere, e pela falsificação da data do pedido de transferência da garota. "São dois fatos gravíssimos que comprometem a permanência da juíza na magistratura", disse Mendes. A juíza teria sido comunicada sobre a prisão de uma menor de 15 anos por tentativa de furto e a manteve presa por 24 dias na mesma cela de presos masculinos.
Clarice Maria Andrade chegou a afirmar que estava reunindo provas para recorrer da decisão do CNJ. Ela discorda dos depoimentos que basearam a aplicação da pena e disse que não teve oportunidade de se defender. Segundo ela, outra juíza estava de plantão quando o Conselho Tutelar do Estado fez o pedido para retirar a menor da cela com os homens. O Conselho denunciou o caso ao Ministério Público e ao Juizado da Infância e da Adolescência no dia 19 de novembro de 2007.
Além disso, Clarice Andrade disse que não recebeu visita do diretor do presídio para relatar a situação da adolescente. "O diretor do presídio não me procurou. Eu tenho uma história na magistratura, minhas promoções foram por merecimento. Se ele tivesse me procurado e me relatado eu teria tomado as providências. Só se eu não fosse uma pessoa sã", relatou a juíza à CNJ em abril. A magistrada ainda não obteve a reversão da aposentadoria compulsória pelo CNJ.