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Apenas um dia de vistorias foi suficiente para que o grupo formado por onze advogados concluísse que o sistema penitenciário do Pará está falido. “Isso aqui não recupera absolutamente nada. O estado do Pará fomenta o crime e colabora muito para a violência no momento em que mantém detentos nessas condições. É um absurdo”, afirmou Adilson Rocha, presidente da Coordenação Nacional de Acompanhamento do Sistema Carcerário do CFOAB e que liderou a comitiva ao lado do diretor-tesoureiro da OAB/PA, Eduardo Imbiriba.
Ao encerrar inspeções em três unidades prisionais, Adilson Rocha não titubeou em disparar: “as condições que encontramos aqui são as piores com as quais nos deparamos até agora. No CRPP III e no CTM I, os detentos estão apodrecendo por causa da total umidade. No PEM I – onde há um anexo com celas contêineres, os detentos estão cozinhando em função do calor. São ambientes completamente insalubres, um horror”.
Medidas
Por conta disso, segundo Rocha, a coordenação oficiará diariamente o CNJ, a Defensoria Pública do Estado e da União, o Ministério Público, para que seja promovido urgentemente um mutirão carcerário no Pará. Para o presidente, a situação constatada é passível de interdição do Estado e do governador. “Já estive em várias cadeias no Brasil e no mundo, mas não vi nada parecido com isso aqui. Aqui é um verdadeiro horror, uma masmorra. É uma forma absolutamente inacreditável de se manter pessoas presas. Só vindo aqui para ver e acreditar”, comentou.
Ainda em reflexão acerca do sistema, Rocha avalia que os reflexos desse quadro caótico atingirão a sociedade. “Com a cultura que os presos adquirem aqui, eles não têm outra alternativa que não seja agredir a sociedade. Eu tenho certeza que os presos saem sem a menor condição de trabalho, sem a menor condição de estudo e com uma dificuldade enorme de locação no mercado de trabalho. Por isso, são quase que forçados a voltar à pratica do crime. E voltam de forma muito mais violenta”.
Diante das condições detectadas, a coordenação recomendará a denúncia do Governo do Estado do Pará por crime de responsabilidade, bem como até propor ação por ato de improbidade administrativa contra diversas autoridades. “O que se viu aqui foi uma absoluta incapacidade do Governo do Estado na gestão prisional”, acrescentando que “é preciso que governador, desembargadores e juízes vejam em que condições os detentos estão presos”.
Reforma
De acordo com Adilson Rocha, uma das providências pertinentes para minimizar essa problemática é a criação da Secretaria de Estado de Administração Prisional. “Com isso, a gestão passaria a ter autonomia administrativa financeira, facilitando o contato com setores da União que podem canalizar recursos. Há mais de R$ 1 bilhão em caixa para ser investido em sistema prisional. Por absoluta incapacidade de gestão do estado, não se consegue obter esse recurso”, ponderou.