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- Por que o senhor é candidato a uma vaga de ministro do STJ? Reynaldo: Estou com 34 anos de profissão. Sempre militei na advocacia. O Pará nunca teve um advogado com acento no STJ pelo quinto constitucional. Eu acho que está na hora da gente pleitear essas coisas, nós paraenses. Acho que tenho alguma coisa a contribuir com a minha experiência. Advoguei na advocacia pública e sobretudo na advocacia privada. Deixei, inclusive, a advocacia pública para me dedicar inteiramente à particular e ter o escritório que temos. Acho que posso contribuir para, com a visão do advogado, formar um novo entendimento para as questões brasileiras, ajudando assim a construir a justiça. - Por que o Pará nunca teve um ministro no STJ? Reynaldo: Nós tivemos um advogado que chegou bem perto, que foi o professor-doutor Paulo Klautau. Ele chegou até a lista tríplice, mas não foi escolhido. Além dele, tivemos dois juízes federais que tiveram acento no STJ, mas são juízes: os doutores José Anselmo Santiago e Aristides Porto de Medeiros chegaram lá. Advogado, entretanto, nenhum. E aqui eu acredito que existam bons valores que poderiam vir a dar uma boa contribuição no STJ. - Qual foi a sua plataforma para chegar ao STJ? Reynaldo: Não temos muito a prometer, além de trabalho e correção nos procedimentos. Talvez a minha grande plataforma sejam a minha experiência e os meus quase 35 anos dedicados à advocacia. - E quais são as correções que o senhor acha que precisam ser feitas? Reynaldo: Correção ética, postura profissional. E eu tenho recebido muito apoio, tanto dos meus conterrâneos, do Conselho Estadual, da presidência da Ordem e de amigos que me incentivam a postular isso. - Sua candidatura alcançou uma envergadura nacional? Reynaldo: Eu tenho visto em sites, inclusive da OAB, alguns Estados se manifestando em apoio ao meu nome. Então, creio que isso tomou ares nacionais. - Na prática, qual o significado da presença, pela primeira vez, de um ministro paraense, caso o senhor venha a se eleger? Reynaldo: É como se jogasse na Seleção Brasileira, entendeu? Ali são apenas 33 juízes, sendo um quinto da ordem, um quinto do Ministério Público e o resto de carreira. E me dá muito orgulho disputar dentro da OAB, que abriga nada menos que 700 mil advogados no Brasil. Dá orgulho de disputar uma lista sêxtupla. Isso é muito relevante profissionalmente para todo o sempre. - O senhor tem alguma proposta a ser apresentada para o regimento interno do STJ? Reynaldo: Há alguns entendimentos em curso no Brasil que eu gostaria de contribuir para melhorar. - Quais são? Reynaldo: No que concerne, por exemplo, às prerrogativas do advogado. Com mais de 30 anos de profissão, aprendi que os advogados precisam de mais respeito, mais atenção. A função do advogado é tão importante quanto a dos juízes e do Ministério Público para a formação da Justiça. É a própria Constituição que diz isso. Todavia, na prática, a realidade nem sempre é essa. A minha vivência como advogado contribuiria para melhorar esse relacionamento entre juízes, as cortes do Judiciário e os advogados. - O que o senhor fará para melhorar isso? Reynaldo: Dar mais atenção, mais respeito às prerrogativas do advogado, que é um pouco o que os advogados se queixam de Norte a Sul, Leste a Oeste. Eles sempre reclamam do chá de cadeira, da descortesia, como se estivessem os juízes e outras funções um patamar acima do advogado. E não estão. - Qual o diagnóstico que o senhor faz da Justiça no Brasil? Reynaldo: A Justiça precisa estar mais perto do povo. A justiça divina é outra. Essa é a justiça dos homens. E a Justiça precisa estar perto dos anseios do povo, da realidade em que se vive e não distante, alheia, algo assim como "eu não tenho nada a ver com isso". Não é por aí. Então, ela precisa estar próxima ao povo e entender os seus anseios, para poder dar respostas rápidas. - Como o senhor avalia o Judiciário no que se refere à celeridade, independência e imparcialidade? Reynaldo: No caso da celeridade, insisto num ponto: não é suprimindo recursos, fazendo leis de cunho processual que será atribuída celeridade à Justiça. Sobretudo nessa última moda que nós temos, no Brasil, de impor multa, penalizando e proibindo mesmo o acesso ao Judiciário. A grande saída, para mim, é melhorar a estrutura do Judiciário. Temos uma estrutura de um tempo vencido, passado, em que a lei e a justiça não eram coisas primordiais. No tempo do governo militar, o Estado Democrático de Direito não estava em pleno vigor. E a estrutura que nós temos é um pouco diferente daquela de 30 ou 40 anos atrás. É preciso melhorar a estrutura do Judiciário desde o sistema de recrutamento dos juízes ao aparelhamento da informática e melhorar os quadros de servidores, capacitá-los melhor. Esse é um ponto. Você falou também da independência e imparcialidade. É impossível termos justiça sem independência. Os juízes precisam ser independentes, para que, fora das pressões, do partidarismo político, exerçam a sua função que é muito nobre e é muito difícil, porque você é levado a julgar vidas, decidir sobre a liberdade ou não de pessoas. Isso é muito difícil de trabalhar, mas é um desafio. E um juiz sem independência não vai exercer a sua função corretamente. Quanto à imparcialidade, é o foco talvez mais importante de todos. O juiz parcial, o juiz que tem um pré-conceito para desmerecer um e atribuir direito a outros, isso é um escárnio, isso é um total contrassenso. É fundamental que os juízes sejam imparciais. Fundamental. - Dos ministros que estão do STJ, o senhor admira algum em especial pelo trabalho? Reynaldo: A nossa militância é intensa, não só no Judiciário do Pará como em outros Estados, especialmente em Brasília, para onde vão os recursos das grandes decisões. E o STJ é uma corte relativamente nova, com 22 anos de idade. Nasceu com a Constituição de 88 e é formada por homens e mulheres brilhantes, que ainda estão lá e já passaram por lá. Eu poderia citar os ministros Aldir Passarinho, Luiz Fux, Eliana Calmon, Nanci Andrighi. São homens e mulheres de cultura invejável, que realmente dão muita sustentação ao Tribunal. O novo presidente, Ari Pargendler, do Rio Grande do Sul, e o atual presidente, ministro César Asfor Rocha, do Ceará, conduzem o tribunal com muita maestria e tornam a corte aberta ou, como eles chamam, o tribunal da cidadania. - Qual a sua expectativa para a votação de escolha do novo ministro? Reynaldo: Posso dizer uma coisa com a maior sinceridade: um cargo desses é uma coisa que não se pede e não se rejeita. Você apresenta apenas o seu nome e mostra o que você é, ao que veio. E deixa a decisão aos eleitores, no caso, em primeiro lugar, o Conselho Federal da Ordem, em segundo lugar o próprio Superior Tribunal de Justiça e, por último, o presidente da República, que simplesmente escolhe. Não há campanha. Não há promessas como se fosse uma campanha política. Não é assim. Quem postula esses cargos sabe das dificuldades que vai encontrar. Muito trabalho, uma vida restrita, quase um sacerdócio. E não muitos estão dispostos ao sacrifício de aceitar essa função. Fonte: http://www.orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=250&codigo=488586 |