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Ao encerrar inspeções, grupo de monitoramento da OAB diz que sistema carcerário do Pará é desumano e caótico

Fotos-Paula-Lourinho-Ascom-OAB-PA_1Desolador, precário e brutal. Dessa forma que os advogados que integram o grupo de monitoramento carcerário formado pela OAB/PA classificaram o cenário que presenciaram durante seis dias de inspeções em 18 unidades prisionais de toda a Região Metropolitana de Belém. Com os trabalhos encerrados hoje (30), poucos bons exemplos foram observados e inúmeros problemas constatados. Tudo constará em relatório a ser encaminhado ao Conselho Federal da OAB.

 

O mais notório dos entraves é a superlotação. Das quinze unidades visitadas, apenas o Presídio Estadual Metropolitano (PEM II) apresentou uma relação equilibrada entre capacidade e número de detentos: 304 para 305. “Com as celas lotadas, é difícil manter a higiene no ambiente e conscientizar os detentos. Por isso, as celas são verdadeiras pocilgas”, definiu Ivanilda Pontes, que é ouvidora geral e conselheira seccional da OAB, além de presidente do grupo de monitoramento.

 

Fotos-Paula-Lourinho-Ascom-OAB-PA_2No entanto, nenhum outro fator preocupou mais a ouvidora Ivanilda do que o quadro de tortura relatado pelos detentos. Os depoimentos mais chocantes foram registrados na Central de Triagem Metropolitana I (CTM I) e no Centro de Recuperação Penitenciária do Pará III (CRPP III). “Depois de nós inspecionarmos o CTM I ontem (29), quatro detentos que denunciaram as torturas já foram transferidos para o CRPP III. Isso foi uma forma de puni-los, o que é um absurdo”, comentou Ivanilda.

 

Para a ouvidora, a utilização de tortura é extremamente danosa ao sistema carcerário. “Essa prática é totalmente desumanizada. Estão sendo violadas as leis vigentes em nosso país. No Brasil, tortura é crime. Há um desrespeito brutal à integridade física dos detentos”, afirmou a advogada, que ponderou. “Um ser humano que já chega brutalizado em uma casa penal, não pode e não tem como sair ressocializado com as condições que estão sendo oferecidas atualmente pelo sistema carcerário em nosso estado”.

 

Fotos-Paula-Lourinho-Ascom-OAB-PA_4Quanto à política de ressocialização adotada nas unidades, os advogados da OAB consideraram os projetos em andamento como incipientes e ineficazes. “Em comparação ao universo de encarcerados, há poucos detentos trabalhando nas casas penais. Poucos administradores de unidades estão empenhados em proporcionar assistência aos detentos e estimular a ressocialização, enquanto que a maioria utiliza a opressão e não dá as respostas devidas, o que contribui para que o índice de reincidência seja alto”, ressaltou Fábio Lima, presidente da Comissão de Sistema Penal da OAB e componente do grupo.

 

Outra constatação do grupo diz respeito à falta de assistência jurídica e morosidade na tramitação processual, fatores que agravam o problema da superlotação. “As cadeias do Pará são um espaço de exclusão e estigmatização da pobreza. Ou seja, a maioria dos detentos possui poder aquisitivo baixo e precisa do trabalho dos defensores públicos”, frisou Fábio Lima, que acrescentou. “Fora isso, a demora em realizar audiências nas varas de execuções penais traz ainda mais ansiedade e tensão para o detento”.

 

Fotos-Paula-Lourinho-Ascom-OAB-PA_3O restrito acesso à assistência de saúde e a péssima qualidade da alimentação oferecida também ganharam destaque nas reclamações. “Os detentos relataram que a atendimento médico é insuficiente e inadequado, além de enfatizarem que há poucos remédios disponíveis”, informou Adriano Gomes de Deus. “Falta de assistência jurídica e médica, alimentação ruim, limitação a visitas e elevado índice de torturas são a tônica da cena carcerária paraense”, resumiu Fábio Lima.

 

Fotos-Paula-Lourinho-Ascom-OAB-PA_5Relatório

 

Após as inspeções, o grupo de monitoramento carcerário irá elaborar relatório que será encaminhado ao Conselho Federal da OAB e o submeterá à apreciação do Conselho Seccional da OAB no Pará, que avaliará a proposição de ingresso de ação civil pública contra o Governo do Estado, requerendo providências no que se refere aos problemas enfrentados no sistema carcerário.

 

Interior

As subseções do interior estão encarregadas de inspecionar as unidades prisionais localizadas em suas respectivas jurisdições. A subseção da OAB em Santarém foi a primeira a concluir, depois de executar inspeção no Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura.
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Produção: Assessoria de Comunicação OAB-PA
Texto: Fúvio Maurício
Fotos: Paula Lourinho

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